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[ou o saudável uso do direito ao contraditório]

a suécia trouxe-me, corpo e alma e tudo o mais que lá anda atrelado, uma série de gostos, manias, interesses e jeitinhos-assim-mais-diferentes-de-ver-a-vida. um deles é quem agora me canta ao ouvido, jay-jay, numa mistura suave de dor, provocação, tristeza, ternura e profundidade. mas há mais. há o silêncio. há a água com gás com sabores. há o falar baixinho. há o não gostar de ver um casal de namorados competir ora-vamos-lá-ver-quem-chega-primeiro-às-amígdalas-do-outro em público. há o absolut rasperri [mãe, pai, é uma marca de água com gás com sabores: sabe a framboesa, esta… bem boa]. há aquele orgulho, aquela espécie de auto-estima doce e prolongada [sendo que aqui o “auto” se inicia no nosso corpo e acaba no nosso país]. há o pão caseiro. há a [muita, muita, muita!] neve. há o amar o sol como um pedaço de vida que nos é roubado todos os anos e que regressa, primavera já alta, para nos beijar o rosto em temperaturas modestas mas doces como nunca antes. e há o belo do aperto de pão.

[tempos houve em que alguns nativos mais crentes ainda me tentaram impingir aquela outra mania de que trabalhar-é-nas-horas-de-expediente-o-resto-do-tempo-é-para-ter-uma-vida, mas nej!… nessa não me apanharam eles. de resto, agora que penso no assunto, tenho é que despachar isto rapidinho porque tenho mais do que fazer. adiante!]

dizia eu: o belo do aperto de mão. simples, higiénico, saudável, despido de preconceitos ou de descriminação sexual.

da última vez que aterrei em portugal, durante os primeiros tempos, ao encontrar alguém conhecido ou ao ser apresentada a alguém desconhecido entregava-lhes, distraída, um braço estendido e uma mão aberta, cheios de amor e carinho para partilhar. depois, já a readaptação numa fase mais avançada, passei a fazer isso por birrinha. finalmente, decidi que as pessoas já me achavam suficientemente estranha por mim só e deixei-me de tretas: retomei, com o ar absolutamente siderado de um inocente que caminha para o cadafalso, os dois absolutamente-nojentos-e-terrivemente-sul-europeus beijinhos.

não gosto. pá, matem-me, não gosto. detesto o excesso de contacto físico, detesto quando a proximidade é suficiente para eu poder contar os pontos negros do nariz da outra pessoa. vejo um rosto a aproximar-se do meu, e imediatamente imagino milhares e milhares de Staphylococcus, Streptococcus, Corynebacterium e Propionibacterium a saltarem animadamente naquela pele aparentemente despida. não me interpretem mal: eu adoro os meus micróbios.

[sabiam que há um estudo, salvo erro publicado na PNAS, que prevê a existência de 250 – sim: duzentas-e-cinquenta – espécies de bactérias diferentes como habitantes normais da pele de indivíduos saudáveis? lixem-se: são 250!]

adoro tanto os meus micróbios, que imagino como eles se devem sentir violados quando eu tenho que, num gesto Maior de sacrifício pessoal, encostar o meu rosto ao de outro qualquer indivíduo e obrigar os meus lindos meninos a conviverem com congéneres seus que não conhecem de lado nenhum mas para com quem têm a obrigação de ser simpáticos. aquela sala chata que se faz a um primo que só se viu uma vez quando se tinha 3 anos. [“então o tempo está bom” “diz que sim, diz que anda” “então e a esposa” “trocou-me pelo secretário de 20 e poucos anos” “ah, pois… acontece… é chato…”]. pá, matem-me: não gosto.

e, uma vez mais, não me interpretem mal: basta lerem a descrição dos nativos do meu signo para perceberem que eu não sou uma fugitiva ao contacto físico. mas, por favor: contacto físico seleccionado. segundo os meus estudos [altamente científicos] na área, o cheiro daquele pedaço de pele ali-quem-desce-do-couro-cabeludo-à-esquerda-e-já-muito-próximo-do-pescoço é diferente do resto do corpo e de pessoa para pessoa. e pode encerrar uma magia quase infinita, uma suavidade tremenda, um segredo para ser partilhado baixinho nas tardes de muita chuva. e tudo o que eu não quero é estragar esses momentos à força de uma vulgaridade arrastada, só porque a sociedade me obriga a espetar o narigão nas covas do rosto de qualquer mamífero desconhecido que se cruze comigo por esses caminhos.

tenho dito.

um grande aperto de mão para todos vós e bom fim de semana.



[vocês não adoram a parte da corridinha? eu adoro.]

20 Comments

    • Sandrinha
    • Posted April 21, 2007 at 10:40 pm
    • Permalink

    Se alguma vez nos virmos juro que te estendo a mão!

    ;o)

    • catarina
    • Posted April 21, 2007 at 10:44 pm
    • Permalink

    inha:
    mas para me dar um estalo ou…?
    🙂

    • Luís
    • Posted April 21, 2007 at 11:32 pm
    • Permalink

    hmm….há beijos e beijos e há mãos e mãos. Prefiro não generalizar lol
    E sim…a parte da corrida está brilhantemente apanhada…também adoro 🙂

    • Menphis_Child
    • Posted April 21, 2007 at 11:46 pm
    • Permalink

    bem, nisso sou o contrário de ti, parto logo para dar os 2 beijinhos, o que, ás vezes, quando acabo de os dar olho para a pessoa e vejo uma cara toda escandalizada a olhar para mim, de sobrolho arreganhado.

    uma vez até deu o 1º e quando ia dar o 2º já ela estava a retirar a cara quase a fugir escandalizada que estava…

    • catarina
    • Posted April 22, 2007 at 1:03 am
    • Permalink

    luís:
    já que estamos numa de braços, tenho que dar o meu a torcer e admitir que tens razão: um roçar de mãos
    [gosto da palavra roçar: soa bem!]
    pode ter mais significado que dois beijos distraídos. até um olhar o pode ter. bolas, até duas palavras o podem ter.
    mas, e mais uma vez, isso se deve à vulgarização dos beijos. diacho: vendessem camisas com botões feitos de ouro e o dito cujo metal deixava de ser valioso. só o que é verdadeiramente raro tem valor… daí o meu apelo à sociedade: contenham-se nos beijos! para que eles continuem a valer uma boa corrida…:)

    menphis:
    és um oferecido, é o que tu és…:) passa a estender-lhes a mão… olha que isso tem saída com as miúdas!:)

    (ok, tem saída comigo, que não posso efectivamente ser tomada como padrão… enfim, podes sempre tentar:))

    • Falcon
    • Posted April 22, 2007 at 1:40 am
    • Permalink

    Bem realmente são muitas bactérias. E pensar que até agora tenho posto a saúde de tanta gente em risco! Espero que me perdoem 🙂
    Ok está combinado, nunca mais me despeço de ti, nem de ninguém!!!, com dois beijinhos. Vou apostar num acenar à Q&F. :))

    • catarina
    • Posted April 22, 2007 at 2:55 am
    • Permalink

    LOOOL
    desculpa, mas essa de assinares com Falcon trocou-me um bocado as ideias:) é a segunda vez que passas aqui no tasco com esse nome e, não fosse a referência a “q&f”, iria eu continuar na santa da ignorância:)
    de resto, os teus beijos, para além das outras 250, ainda devem ter umas quantas ralstonias… não que eu seja um tomate, mas dispenso:)
    o acenar não me parece mal… mas se me prometeres que lavas cuidadosamente as mãos antes, e por ser para ti, também aceito uma festinha na cabeça;)

    (é aproveitar a onda de generosidade que isto não dura sempre:))

    • Caixa
    • Posted April 22, 2007 at 3:49 am
    • Permalink

    loll
    Divergências à parte – e oh se discordo e estou aqui perturbado com as tuas teorias, vá-se lá perceber que um streptococcus impeça uma bela duma beijoca repenicada – reconheço que estiveste bem.
    E como prova de fair-play, estou disposto a propor que nos cumprimentemos com dois beijinhos e um aperto de mão.

    • ZeoX
    • Posted April 22, 2007 at 11:27 am
    • Permalink

    Eu cá, gosto de germes e bactérias e outros micróbios que tais. Se não os trocarmos avidamente e assiduamente, vamos ficar uns raquíticos estéreis que adoecem ao primeiro contacto com a Natureza (é por estas e por outras que só limpo o pó no quarto uma vez por mês… não, eu NÃO sou preguiçoso! *cof*). Viva o beijo. Mesmo o ocasional. BEIJO mesmo, não o roçar de bochecha à tia de Cascais. Aqueles bem aplicados na face, na testa, onde for. Viva o roçar de mãos, viva a troca de olhares. Viva a manifestação espontânea de afecto.

    E vivam os micróbios!

    • Resmunga
    • Posted April 22, 2007 at 12:44 pm
    • Permalink

    Já pensaste no quão PORCAS as nossas mãos andam a maior parte do dia e quantas bactérias por milímetro quadrado as habitam? E depois, não achas infinitamente mais nojento apertar uma mão suada e escorregadia que muitos indivíduos têm e não conseguem fazer nada contra isso? De resto, os apertos de mão, como os beijinhos na cara, podem dizer muito acerca da pessoa e do que ela pensa de ti. Eu, por mim, valorizo muito mais o aperto de mão do que dois beijos, como conceito, de onde prefiro desperdiçar dois beijo a esbanjar apertos de mão com quem não merece! Para mim, um aperto de mão ou é sentido, ou não se dá!

    • catarina
    • Posted April 22, 2007 at 12:44 pm
    • Permalink

    caixa:
    ok, temos negócio… mas certifica-te que não apoias a mão em nenhum corrimão público antes de me cumprimentares…:)

    zeox:
    credo, que promiscuidade…:) mas isso assim, com toda a gente? roço de mãos assim, para a comunidade em geral? nejj…..:) not my cup of tea!

    • catarina
    • Posted April 22, 2007 at 12:51 pm
    • Permalink

    ó resmunga, mas tu não me batas, olha que eu estou contigo, homem!:)
    a mão pode ser uma coisa altamente nojenta, só que está mais longe de qualquer abertura corporal…
    simplesmente, para quem não merece um aperto de mão, de mim também não leva dois beijos… nada disso:)

    de resto, nos apertos (…de mão:)), como nos abraços: ou são sentidos, ou não se dão! podes iniciar a petição que eu assino por baixo:)

    • Menphis_Child
    • Posted April 22, 2007 at 1:10 pm
    • Permalink

    vou pensar nisso, se calhar agora vou tentar um pouco mais de sucesso com elas…lol..bom domingo e logo à noite já sabes o céu vai ser mais azul e branco..lol

    • catarina
    • Posted April 22, 2007 at 2:14 pm
    • Permalink

    menphis:
    😉 tenta, tenta, e depois faz-me o relatório:) sempre tenho uma certa curiosidade científica para saber até que ponto os meus conselhos amorosos são maus:)

    e até logo, no lugar do costume:)

    • Resmunga
    • Posted April 22, 2007 at 8:18 pm
    • Permalink

    Eu? ná, eu não bato em ninguém!.. Acho que já me habituei tanto aos dois beijinhos que não dou pelas implicações higiénicas. Mas tens razão, prefiro dá-los a amigas e não faço questão de dar a estranhas.

    • eu mesma
    • Posted April 23, 2007 at 1:29 pm
    • Permalink

    eu sou uma beijokeira… mas só para os amigos!

    concordo com o resmunga… sabe-se lá onde as mãos andaram! Tudo bem que não temos orifícios corporais ao pé das mãos, mas as mãos vão a tanto lado!

    • catarina
    • Posted April 23, 2007 at 9:13 pm
    • Permalink

    LOL!
    ouve lá, ó eumesma, mas onde é que tu andas a meter as mãos, miúda?:) posta uma pessoa uma coisinha tão inocente e acaba a ter que se deparar com verdadeiras confissões promíscuas… isto é divertido:D

    • eu mesma
    • Posted April 24, 2007 at 1:08 pm
    • Permalink

    LOL…ok, o meu comentário pode ser mal interpretado…mas bolas, depois de apertares a mão a alguém vais lavá-la a seguir? E enquanto lavas e não lavas a mão pode passar pela cara, pela boca, podes pegar em qualquer coisa…(hum… não sei se isto assim ficou melhor)

    • Anonymous
    • Posted April 24, 2007 at 7:23 pm
    • Permalink

    tenho de concordar que beijos dados apenas por dar, lançados no ar que rodeia a nossa bochecha, são ridiculos,
    mas um beijo na cara sentido, poisado com carinho e cuidado sabe bem… de dar e de receber.

    inês

    • Tiago Franco
    • Posted April 26, 2007 at 11:55 am
    • Permalink

    Há o belo aperto de mão escandinavo, que torna tudo frio e distante, mas equilibrado. Concordo.
    Quando os conheces mais e te tornas “um próximo” abandonas o aperto de mão e passas ao “next step”, que é o meio abraco.
    O meio abraco implica peito-com-peito e bochecha com bochecha. Só uma. Como as tias mas sem beijoca. Já é propício à bicharada, mas confesso, enche-me mais o espirito de europeu de sul que gosta mesmo é de contacto. Com ou sem micróbio.


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